quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Até mais, Marina



Osvaldo Russo,

Com todo o respeito e admiração que merece a senadora Marina Silva, mas falar em construção programática com um partido (Partido Verde) que se subordina a governos e interesses do PSDB e do DEM é de flagrante contradição política.

Se para ela não foi um processo fácil decidir sair do PT, para os que continuam é difícil entender a eficácia de sua opção ao reconhecer ela mesma que ajudou no PT “a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002”.

Mas de que adiantam razões objetivas se ela tem o sentimento sincero de que faz uma “inflexão necessária à coerência com o que acredita ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade”. Se com Lula e o PT há riscos, imagino como será com o PV e seus aliados hegemônicos de direita.

Tenho a firme convicção de que essa decisão está eivada de equívocos. Quem disse que o PT defende o desenvolvimento material a qualquer custo, em especial em detrimento dos mais pobres e vulneráveis socialmente? Quem disse que a plataforma programática do PT não inclui estrategicamente a sustentabilidade ambiental? As dificuldades internas no PT e, principalmente, no governo Lula, que não é só do PT ou da esquerda, deveriam encorajar Marina a continuar escrevendo a sua bela história de lutas no PT.

Ela reconhece que como ministra do Meio Ambiente do governo Lula participou de importantes conquistas, entre as quais citou a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Ainda assim, acha que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

Se ela entende que o PT não mais constitui instrumento político para a construção de seus ideais, eu quero dizer que a recíproca não é verdadeira. O encontro, como ela deseja, com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País nunca foi, não é e não será incompatível com o programa do PT. Ao contrário, da mesma forma que não foi, não é e não será no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Recentemente, o Núcleo Agrário, a secretaria do Meio Ambiente e a direção do PT apoiaram a carta de Marina ao presidente da República solicitando vetos a artigos da lei de regularização fundiária na Amazônia. Lula vetou as aberrações da lei introduzidas pelos ruralistas no Congresso Nacional. Agora mesmo, depois de tantos desencontros com o governo sobre a questão agrária, o MST reconhece que obteve uma conquista histórica para a Reforma Agrária. O Núcleo Agrário e a direção do PT ajudaram nessa construção histórica e, desde o início, apoiaram o Acampamento Nacional em Brasília e as mobilizações nos estados. Em nenhum momento, o governo obstaculizou a nossa ação partidária. Ao contrário, aprofundou o diálogo com o movimento social e fez avançar as mudanças que são necessárias à Reforma Agrária no Brasil.

De qualquer modo, independentemente da forma-partido ou das formas de luta por ela escolhidas estaremos juntos não só no Acre, como Marina carinhosamente se referiu ao seu estado natal e aos companheiros de embates, mas em todo o País, porque as searas juntas cultivadas não morrerão, continuarão a frutificar pelo Brasil que queremos.

Osvaldo Russo é coordenador do Núcleo Agrário Nacional do PT

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