Por Brasigóis Felício *
Em muitas situações em nossa vida ter alguém que nos escute, que dê eco ao que dizemos, ou que simplesmente permaneça em silêncio carinhoso, misericordioso ou compassivo, é toda a riqueza que pretendemos ter. Nunca antes neste mundo de humanóides lunáticos houve tão gigantesca rede de comunicação (ainda que virtual) entre pessoas de todo o planeta. Temos no presente a realização do sonho midiático da aldeia global, de que falava o comunicólogo Mac Luhan.
Nem mesmo as mais distantes aldeias indígenas estão fora da comunicação por satélite, via internet, em banda larga. O mundo tornou-se assim pequeno, tudo o que acontece em qualquer parte do globo é transmitido instantaneamente. Sentimos, na carne da mente, que o mundo está em nossa casa, e que nós somos o mundo. Há uma ânsia dos seres humanos por serem notados, ganhar visibilidade, ainda que seja pelos motivos mais horríveis. O ser anônimo, o não fazer parte de uma comunidade, mesmo que seja a de grupos de insanos, criminosos e doidos, constitui o horror mais temido – aquilo de que todos desejam fugir.
Em todo o mundo, o dom da escuta é cada vez menos exercido – e tende a ser esquecido, na sociedade de autistas normotizados em que vivemos. E “a solidão, essa pantera”, vem a ser companheira inseparável de ricos , pobres e remediados, incluídos ou excluídos de todas as nações da grande família humana – que no Brasil leis absurdas, na contramão da história, vão dividindo entre negros e brancos, com ou sem terra ou teto.
Adeus ao país cordial do jeitinho – agora o preconceito é instituído e oficializado em leis, pelas quais desiguais são tornados mais iguais do que os outros – o que dificulta ainda mais a escuta entre pessoas que, não importando a cor da pele ou a condição social, são irmãos, pois pertencem à mesma raça, e integram a vasta família humana. Lembro a imortal canção de Johnny Alf: “Se a juventude que esta brisa cala/ficasse aqui/comigo mais um pouco/ eu poderia ter alguém/que queira me escutar/e junto a mim/queira ficar/”. Mais pobreza existe do que viver em lugar onde é baixíssimo o índice de Desenvolvimento Humano, ou do que termos pouco ou nenhum poder de compra: é não ter ninguém que nos ame, e queira nos escutar.
Nem só de milhares de amigos virtuais no MSN e no Orkut precisamos, nem de followeres com milhares de seguidores virtuais, gente com alma de 140 caracteres e sem nenhum caráter, mas de alguém que em carne osso e nervos nos escute, para que possamos nos lembrar de que estamos vivos, e que a vida é um milagre que subsiste em tudo quanto somos, enquanto respirarmos.
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