terça-feira, 9 de novembro de 2010

QUANDO O SER HUMANO SE COISIFICA


Por Ana Helena Tavares (*),


Sempre se soube que o preconceito nasce da intolerância humana. Talvez uma intolerância a si mesmo. Aquele que julga o outro inferior – por cor, origem, credo – só pode sofrer de séria crise de identidade. Quem se ama não tem porque odiar seu semelhante de forma gratuita e baixa.

Já está provado pela ciência – queiram os puristas ou não – que todos nós – paulistas e nordestinos, ricos e pobres, brancos e negros, judeus e palestinos – fazemos parte de uma só raça, maravilhosamente diversificada: a raça humana.

No entanto, na contramão da diversidade humana, muitos cientistas prometem, daqui a algum tempo, oferecer a possibilidade de que se determine, ainda na barriga da mãe, as características de um ser humano, podendo-se, assim, “montar” um filho idealizado segundo a visão de seus pais. Isto pode trazer sérias conseqüências.

Fazer com que o ser humano já nasça perfeito seria criar super-homens para matá-los pela própria perfeição. Ser perfeito é sinônimo de não ter desafios a superar. Não ter desafios a superar é sinônimo de morrer em vida.

Sendo assim, quem vai querer ter em casa grandes gênios e beldades? Só mesmo os insensatos... Que passarão a discriminar o restante.

Ops... Passarão? Estaríamos, com isso, entrando num nazismo disfarçado ou já viveríamos nele?

Recentemente, no dia seguinte à eleição de Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do Brasil, uma onda de ódio xenófobo invadiu o badalado Twitter, provando que parte inominável do ser humano não se guia pela ciência, mas, sim, por seus mais sórdidos instintos. Não digo instintos animalescos, porque o reino animal é formado por seres bem mais dignos de admiração do que os neonazistas de plantão.

Se pudessem, promoveriam um verdadeiro darwinismo social – em que o voto dos paulistas de olhos claros teria peso dois em detrimento dos de “cabeça chata”.

Esquecem, por cegueira de alma, que foram e são os de “cabeça chata”, os negros e as mulheres – ah, as mulheres – que construíram e constroem este país com sangue e suor.

Ignoram, por opção mesquinha, que, um dia, poderão estar sós e, se apenas a mão calejada de um nordestino lhes oferecer abrigo, terão que implorar que nem o gafanhoto à formiga: “Deixe-me entrar?”.

Desconhecem, por desconhecimento mesmo, que não estariam teclando tanta asneira em seus computadores se um filho de carpinteiro (Thomas Edison) não tivesse inventado a luz elétrica.

Querer que o outro seja, pense e aja de acordo com interesses pessoais é querer brincar de Deus. É, enfim, coisificar-se, negando sua própria essência.

*Ana Helena Tavares é jornalista por paixão, escritora e poeta eternamente aprendiz. Editora-chefe do blog "Quem tem medo do Lula?".

Fonte: Ousar Lutar

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