quinta-feira, 28 de outubro de 2010

É hora de tomar partido: um basta aos reacionários tucanos!

O significado de uma vitória tucana será catastrófico não só para o País, mas para o todo o território latino


Roberta Traspadini

Estamos às vésperas do segundo turno. O momento atual é de intensa mobilização contra a campanha tucana em todo o País. É importante que assim seja. Caso contrário, corremos o risco de não aproveitar essa oportunidade histórica para ler, incidir, dialogar entre nós classe trabalhadora, sobre o que vemos, e porque vemos a disputa da forma que vemos.

O significado de uma vitória tucana será catastrófico não só para o País, mas para o todo o território latino.

Para nós, classe que vive do trabalho, o momento é de estarmos nas ruas, nas células organizadas, discutindo o que se quer para além do que se tem, e os riscos manifestos com as apostas que podem ser feitas no curto prazo.

Todo projeto tem por trás uma concepção de mundo que relata sua forma e seu conteúdo de poder. Vejamos as bases conceituais dos tucanos.

1. O projeto de nação do PSDB

O projeto de Nação do PSDB, cujos principais intelectuais orgânicos são Fernando Henrique Cardoso e José Serra, é o de modernização atrelada ao que de mais avançado há no capitalismo em sua fase imperialista.

Para estes ideólogos da concepção de desenvolvimento como interdependência entre capitais, uma nação moderna é aquela conectada aos avanços técnico científicos promovidos pelos capitais protagonistas, independentemente da nacionalidade destes capitais.

As teses deste grupo são forjadas na seguinte concepção: existência de uma burguesia nacional conservadora que atrofia o pacto federalista para o desenvolvimento capitalista. Logo, necessita ser estimulada, movimentada, ou destruída pela concorrência com os grandes capitais investidores internacionais, sejam produtivos ou financeiros.

Para este grupo, a única forma de avançar no capitalismo imperialista, é permitir, via tomada do poder do Estado, um tipo de ação governamental que viabilize aquisições, fusões, privatizações, desestatizações, quebra de regulações e políticas macroeconômicas que impeçam a livre movimentação do capital (inter)nacional.

Para estes sujeitos a era global se caracteriza como a de livre mobilidade do capital que deve ser vista como uma oportunidade histórica para as economias retardatárias no processo de desenvolvimento capitalista.

2. A execução do poder

Na prática do poder, esta tese evidencia a relevância para o capital internacional de um Estado parceiro, aberto às coligações produtivas e infra-estruturais no processo de inovação tecnológica puxado pelas grandes corporações.

Com o aval do partido e de seus representantes eleitos, este capital moderno ocupa o que é do Estado e governa a sociedade e os territórios, pela constituição federal soberanos, a partir da busca pela valorização de seu negócio para além das fronteiras nacionais.

Este capital moderno, cujas sedes das principais empresas estão nos Estados Unidos, tem projetado nos últimos 40 anos para América Latina um novo momento de apropriação dos recursos naturais, energéticos e das riquezas criativas da população, no que podemos caracterizar a renovada fase das veias abertas da América Latina.

A meta principal é a apropriação privada dos americanos e seus pares, de tudo o que pertence ao Estado Nacional latino-americano e mundial, como guardião, republicano, dos interesses das sociedades que ocupam.

Estamos falando de um novo estágio da guerra, em que a leitura da correlação de forças no continente nos exige com urgência frear qualquer proposta de apropriação imediata do roubo dos territórios e vidas por parte dos capitais imperialistas hegemônicos, com a chancela do Estado nacional brasileiro.

Uma vitória de Serra representa um avanço sem precedentes no continente latino-americano daquilo que o PSDB, via sua adesão consensual a Washington, não conseguiu realizar por completo nos 10 anos de mando direto dentro do Governo Federal (oito de Fernando Henrique como Presidente e dois anos dele como Ministro do Governo Itamar).

A prévia eleitoral de uma possível vitória de Serra evidencia o aberto processo de conflitos, de guerra, criminalização dos movimentos e sujeitos, logo, a ampliação de um processo de perseguição e de construção no imaginário coletivo da sociedade brasileira sobre os criminosos, os crimes e o tipo de criminalidade.

Estamos falando da opção política concreta que os EUA esperam para assumir a ofensiva sobre o continente a partir da conquista do Estado brasileiro no próximo governo, assim como fazem com Chile, Colômbia e México, citando os governos coligados mais avançados nos pactos capitalistas imperialistas atuais.

3. As tarefas deste momento histórico

O que está em jogo não é a medida socialista ou capitalista da disputa e sim a forma como se vê a ampliação da soberania brasileira e o conteúdo de sua relação com o continente a partir dos dois projetos que se colocam em disputa.

No plano capitalista selvagem, não é possível a permissão representativa de que os tucanos subam a serra do poder legitimados socialmente por mais 4, para executar um processo claro de barbárie social.

Caso isto ocorra, a degradação do pouco que se conseguiu reconstruir no após queda do muro de Berlim no País será avassaladora para dentro e para fora das fronteiras nacionais. Mesmo que na aparência ocorram políticas sociais que ocultem a real entrega das riquezas de nossos territórios à Nação hegemônica.

São tempos difíceis. Tempos de um posicionamento que pode parecer contraditório mas que evidencia, na correlação de força deste momento, os pesos sobre a classe trabalhadora de uma opção reacionária para os próximos 4 anos.

São tempos que nos obrigam a estar nas ruas dialogando com nossos pares, os trabalhadores, ouvindo suas opiniões e tirando daí uma boa reflexão sobre os responsáveis pela formação de suas consciências na atualidade.

Isto é fundamental na construção da representatividade no poder, uma vez que a educação oral formaliza a estrutura do pensar protagonizada pela indústria cultural capitalista hegemônica no país, no continente e no mundo.

Nossa principal tarefa é debater com a parcela da sociedade que nos interessa, o que perderemos caso se consolide uma vitória reacionária tucana.

Para isto é importante que nossos materiais de agitação e propaganda e nossos instrumentos de diálogo com a sociedade estejam a serviço desta intencionalidade de classe. A edição especial do Brasil de fato e as cartas dos movimentos sociais do campo nos dão estes elementos.

A tarefa apenas começou. O mais importante vem depois, com uma vitória do PT. Aí o debate será de outra natureza: reivindicar, exigir, construir, cobrar um rumo diferente para a política de governo do Brasil. É verdadeiramente uma campanha com voto crítico que requer ser escutado agora, mas construído de fato depois das eleições.

A tarefa maior está para além do poder institucional a ser tensionado: teremos que retomar abertamente a reconstrução da unidade da esquerda, com o objetivo de construirmos e disputarmos o poder com base em um projeto popular, que realmente nos represente como trabalhadores brasileiros e latino-americanos

Fonte: Brasil de Fato

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