Para especialistas, o conflito entre policiais civis e militares de São Paulo representa uma piora sensível da política de segurança pública do governo estadual. A condução convencional deu lugar a novos entraves. Em 16 de outubro de 2008, policiais civis, em greve havia 31 dias, realizavam um protesto em direção ao Palácio dos Bandeirantes, residência oficial do então governador paulista, José Serra, hoje candidato à Presidência da República pelo PSDB.
Mas o encontro com a Polícia Militar resultou em um enfrentamento transmitido para todo o Brasil e com repercussão internacional. Na ocasião, a batalha em campo aberto foi analisada pelo Times Online, da Grã Bretanha, em função do alerta das Nações Unidas de que deveria ser revertida a situação de baixos salários da polícia brasileira.
Serra preferiu não receber os policiais civis, dando mostras de inflexibilidade. A Polícia Militar, como fez ao longo da gestão do agora candidato à frente do estado, cumpriu a ordem de reprimir movimentos reivindicatórios. A diferença é que, desta vez, do outro lado estavam homens igualmente armados e que carregam, entre si, o peso de disputas por espaço. O resultado imediato foi de 24 feridos e manchas na imagem da política de segurança estadual.
A longo prazo, os efeitos são piores. Renato Sérgio de Lima, secretário-geral do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lembra que foi prejudicado todo e qualquer esforço de integração das polícias. A divisão histórica é vista como um dos fatores para explicar os altos índices de criminalidade no estado, já que a comunicação entre policiamento ostensivo e investigativo fica prejudicada.
Lima lembra que, durante a gestão de Mário Covas, a primeira que o PSDB teve em São Paulo, foi feito um esforço grande na melhoria deste intercâmbio. “Se é que os governos posteriores não abandonaram isso, na prática deram menos ênfase, tiveram uma administração mais tradicional da polícia”, analisa. Ele refere-se aos seis anos de gestão de Geraldo Alckmin e três de José Serra.
O que vinha com problemas agravou-se. O especialista entende que os fatos de 2008 significam um enorme refluxo nos esforços empreendidos desde a década anterior. “É extremamente emblemático que, quando as reformas não ocorrem de uma maneira definitiva, ao menor sinal, podem retroceder muito. É uma quebra de confiança, uma fragilização da política de integração que vinha sendo conduzida há muitos anos.”
Luiz Flávio Sapori, ex-secretário de Segurança Pública de Minas Gerais e secretário-executivo do Instituto Minas pela Paz, entende que o setor de investigação vinha avançando na polícia paulista, com melhoria na resolutividade de casos. Mas, de 2008 para cá, a situação mudou. “Isso por conta do acirramento dos conflitos corporativos entre as duas polícias, que teve o ápice no enfrentamento em frente ao palácio de governo. Isso afeta a motivação policial na ponta, bem como aumenta a distância entre os trabalhos da polícia ostensiva e da polícia investigativa. À medida que esse trabalho é distante, antagônico, a eficiência na repressão ao crime diminui.”
Fonte: Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo
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