Por Redação [Segunda-Feira, 19 de Outubro de 2009 às 16:37hs]
José Saramago afirmou este domingo, em Penafiel, que "a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana". O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Padre Manuel Morujão, classificou as declarações de José Saramago como uma "operação de publicidade" e considerou que não fica bem a um Prêmio Nobel entrar em tom de "ofensa".
"Sobre o livro sagrado, eu costumo dizer: lê a Bíblia e perde a fé!", disse o escritor, numa entrevista concedida à Lusa, a propósito do lançamento mundial do seu novo livro, intitulado "Caim", que ocorreu domingo naquela cidade.
"A Bíblia passou mil anos, dezenas de gerações, a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso e insuportável. É uma loucura!", afirma o Nobel da Literatura de 1998, para quem não existe nada de divino na Bíblia, nem no Alcorão.
"O Alcorão, que foi escrito só em 30 anos, é a mesma coisa. Imaginar que o Alcorão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redatores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!" afirmou.
Saramago sublinhou que "as guerras de religião estão na História, sabemos a tragédia que foram". Considerou que as Cruzadas são um crime do cristianismo, morreram milhares e milhares de pessoas, culpados e inocentes, ao abrigo da palavra de ordem 'Deus o quer', tal como acontece hoje com a Jihad (Guerra Santa).
"O teólogo Hans Kung disse sobre isto uma frase que considero definitiva, que as religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos uns dos outros. Só isto basta para acabar com isso de Deus", afirmou. Salientou ainda que "no catolicismo os pecados são castigados com o Inferno eterno. Isto é completamente idiota!", já que, segundo ele, "nós, os humanos somos muito mais misericordiosos. Quando alguém comete um delito vai cinco, dez ou 15 anos para a prisão e depois é reintegrado na sociedade, se quer", disse.
"Não entende os gêneros literários da Bíblia"
Questionado sobre se tenciona ler "Caim", o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa disse que a nova obra de José Saramago não está entre as suas "prioridades".
"Não está nas minhas prioridades a leitura desse livro, porque pela apresentação que aparece na comunicação social acho que é de alguém que não entende os gêneros literários da Bíblia", justificou.
O padre Manuel Morujão adiantou que "a Bíblia não tem só livros históricos como tem livros poéticos, livros sapienciais", sendo "evidente que não se vai interpretar poesia com critérios de história e vice-versa".
Fonte: Revista Fórum
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