A Venezuela comemorou nesta terça-feira (13) o oitavo aniversário do regresso ao poder do presidente Hugo Chávez - destituído por um golpe militar que só se sutentou por dois dias -, com ações de incentivo à aliança cívico-militar que caracterizou aqueles fatos.
A juramentação, na avenida central Bolívar, de 34 mil milicianos pelo presidente Chávez simboliza o espírito daquelas ações, quando a população, junto a militares constitucionalistas, resgatou o elo constitucional. No dia 11 de abril de 2002, a oposição de direita liderada pelos grandes empresários, a cúpula da igreja católica e a direção da Embaixada dos Estados Unidos em Caracas conseguiram retirar o presidente Palácio Presidencial e aprisioná-lo.
Ainda que tenham tentado justificar o golpe com um vazio de poder, produzido após mortes cuja responsabilidade atribuíram a uma ordem de Chávez, a maioria da população não acreditou nos pretextos. Milhares de venezuelanos lançaram-se às ruas, sobretudo vindo dos morros caraquenhos, os setores mais pobres, para exigir o regresso do presidente cujo triunfo representou uma esperança para milhões de pessoas tradicionalmente excluídas.
A notícia de que Chávez havia renunciado, difundida pelos golpistas, não desmobilizou a população em um movimento ascendente, ao qual se foram somando oficiais e militares de diferentes regiões do país. O presidente venezuelano havia chegado ao Palácio de Miraflores com uma proposta de melhor distribuição da riqueza e mais justiça social frente à pobreza. Derrotou a maquinaria dos partidos tradicionais dominantes por 40 anos.
A pesar da pouca infra-estrutura de campanha, Chávez somou sua proposta de mudanças a uma imagem de honestidade e valentia, quando, em fevereiro de 1992, liderou uma rebelião cívico-militar contra o então presidente Carlos Andrés Pérez.
Essa ação, longe do clássico golpe militar, foi percebida pela população como resposta a um regime que tinha dado as costas ao povo para aplicar uma política neoliberal condicionada aos interesses das empresas multinacionais.
A rejeição popular a essa política provocou, em 1989, o Caracazo, quando a população protagonizou uma rebelião popular espontânea que terminou com uma matança cujas dimensões não foram detalhadas até hoje.
Há oito anos do golpe de Estado, a comemoração realiza-se em meio a alertas de que setores golpistas e aliados estrangeiros continuam pensando em derrubar o presidente por meio da força. Nesse sentido, as autoridades e líderes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) advertem sobre a necessidade de estarem preparados para a defesa, contexto no qual se impulsiona a formação de milícias populares.
Diante dos perigos, a presidenta da Assembleia Nacional, Cilia Flores, e outros dirigentes venezuelanos, avaliam que o governo e seus seguidores estão hoje muito melhor preparados que em 2002. "Estamos preparados e a lealdade do povo é uma garantia para afirmar que aqui jamais voltarão a ocorrer golpes de Estado, greves patronais e 'guarimbas' (distúrbios)", afirmou Flores em um ato comemorativo à data.
Na sua opinião, o espírito daquele 13 de abril de 2002, quando os golpistas abandonaram o Palácio Presidencial diante da avalanche popular, é que o povo segue reconhecendo Chávez como o líder de suas esperanças.
"A consciência de nosso povo representa uma fortaleza do processo revolucionário liderado pelo presidente, Hugo Chávez", opinou Flores, com relação ao dia em que "o povo defendeu a revolução na rua, com a constituição na mão".
Às ameaças como aquela de 2002 se soma agora a tentativa da oposição de retomar posições na Assembleia Nacional com as eleições parlamentares previstas para setembro. Chávez, que convocou seus seguidores a obter um triunfo aplastante nessas eleições, alerta que, se ganhar o parlamento, a oposição tentará novamente deter o processo de mudanças a partir desse órgão com um golpe similar ao de Honduras.
Oito anos depois do respaldo dado ao mandatário, soma-se o aprofundamento do processo para reforçar seu perfil socialista que o presidente considera representar a libertação do ser humano e verdadeira expressão da democracia.
Hoje, estão colocados para o presidente termos similares aos de 2002: a luta entre a oligarquia e os pobres, definida como confronto entre capitalismo e socialismo, cujo próximo episódio serão as eleições parlamentares de 26 de setembro.
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