Nos primórdios, antes da propriedade privada, a arte era concebida como construção coletiva e ritualística fazendo parte dos fazeres cotidianos de agrupamentos e comunidades, inexistindo a separação entre a arte e o público, mantendo desta forma uma relação de confluência, fraternidade e de humanização entre as pessoas, tendo em vista o viés inclusivo da vida comunal.
Mas a partir do surgimento da propriedade privada, a arte assume outras feições e passar a ter características de distanciamento entre a produção artística e o grande público ocorrendo também a cisão entre a produção intelectual e manual. Consequentemente esse fator é preponderante para fragmentá-la, criando uma arte para o povo e uma arte para as elites.
Ao assumir essa dimensão de classe social na arte, a classe das elites utiliza dos seus instrumentos de dominação para imprimir a ideologia dos seus interesses, que é a de colocar as manifestações e produções populares como inferiores, ingênuas e desprovidas de conteúdo e de forma. Em contraposição, a classe dominante coloca a sua produção simbólica como dotada de superioridade. Essas contradições transpiram nas formas de relacionamento das classes sociais com a arte.
No capitalismo existem formas distintas de produção simbólica uma delas vem das tradições coletivas e estão ligadas a vida das camadas populares e na defesa dos seus interesses, a qual podemos denominar de arte social, como sugere a professora Maria Inês Hamann Peixoto, vale destacar para dirimir dúvidas que toda arte é uma produção histórica social, independente de qual classe o artista esteja vinculado, na outra ponta teremos uma produção para atender aos deleites das elites econômicas e no meio a produção em larga escala, produzida nos laboratórios e nas indústrias capitalistas para ser destinada a alienação, despolitização e a desumanização das massas.
Com o advento do capitalismo e os resquícios do Idade das Trevas, período medieval, na qual a Igreja Católica Apostólica Romana esteve ditando a produção artística, a arte sofreu sérios prejuízos que refletem até os dias atuais, podemos citar como exemplos a individualização do artista e a sua separação do público e o infeliz discurso de que a arte seria um dom, produção ou manifestação vindas dos céus. A arte é e só pode ser produção e manifestação de mulheres e homens situados num tempo e num espaço. A arte é uma forma de trabalho, ou seja, uma ação consciente que visa manter uma relação entre os seres humanos e a natureza com vista a transformar e resignificar-la.
É preciso reconhecer a necessidade de reencontro da arte com os seus primórdios, considerando as novas contextualizações históricas e sociais. A lógica Aristotélica de conceber a arte enquanto ao algo para ser contemplado não convém às camadas populares, pois cria uma ponte quebrada entre publico e a arte/artista. É necessário aproximar a arte das vivências individuais e coletivas, colocando o público enquanto ser ativo do processo de construção/desconstrução/reconstrução das experiências, produções e manifestações artísticas e estéticas.
A ação coletiva ou a possibilidade de envolvimento do público dentro dos fazeres artísticos e estéticos propiciam uma nova dinâmica de compreensão e de relacionamento com a arte que reconstrói a ponte entre arte e a vida, servindo para passagens das relações de pertencimento, empoderamento, humanização, politização, criação e conhecimento. Quanto mais envolvente, ativa, interativa e colaborativa forem as experimentações no campo simbólico e sensorial, mas a arte assumirá uma dimensão engajada e humana.
Alexandre Lucas é Coordenador do Coletivo Camaradas, pedagogo e artista/educador.
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