É inegável que os votos das regiões mais pobres do país – Norte e Nordeste – consolidaram a ampla vantagem de 12 milhões de votos que Dilma Rousseff (PT) teve sobre o seu adversário do segundo turno, José Serra (PSDB), na eleição presidencial deste domingo. Porém, mesmo se tivesse saído dessas duas regiões sem qualquer vantagem, a nova presidente do Brasil garantiria a vitória. Ou seja: a diferença que Dilma fez em Minas Gerais, Rio de Janeiro e no Distrito Federal já seria suficiente para anular as perdas que teve em todos os estados onde Serra ganhou.
Considerando apenas os votos do Centro-Oeste, Sul e Sudeste, Dilma teria 33,2 milhões de votos contra 32,9 milhões de Serra – uma diferença de apenas 275 mil votos, mas que daria a Presidência à petista. Dilma venceu no Sudeste com um diferença de 1,6 milhão de eleitores e, por isso, neutralizou as vitórias de Serra nos estados do Sul, onde ele teve vantagem de 1,2 milhão de votos, e no Centro-Oeste, região em que a diferença pró-Serra foi de apenas 129 mil votos (veja mapa nesta página).
Dessa maneira, cai por terra o argumento de que foram apenas o Nordeste e o Norte que garantiram a eleição de Dilma. É o que diz o cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR. “A interpretação de que Dilma teve uma vitória ‘geográfica’ é um pouco enganosa”, afirma.
A campanha de Dilma conseguiu dois trunfos para isso. O primeiro foi garantir a vitória em dois estados importantes do Sudeste: Minas Gerais e Rio de Janeiro. Juntos, os dois estados tiveram 18,8 milhões de votantes. E 11,1 milhões deles (59,3%) votaram em Dilma, contra outros 7,6 milhões (40,6%) que preferirar Serra. A segunda vantagem dela foi dividir o eleitorado nos demais estados. Exemplo mais claro disso é São Paulo. Apesar de ser o principal reduto político de Serra, o estado teve uma votação menos elástica do que poderiam prever os tucanos. Serra venceu no estado com 12,3 milhões de votos (54%) contra 10,4 milhões (45,9%) da petista.
Arranjos regionais
A professora e cientista política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Maria do Socorro Braga, acredita que este desempenho de Dilma nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste é reflexo dos arranjos políticos regionais. Para ela, a votação em São Paulo foi apertada como a eleição para governador, em que Geraldo Alckmin (PSDB) conseguiu a vitória depois de uma disputa forte com o candidato petista Aloizio Mercadante (PT).
Já em Minas, a vitória da petista se deveria ao pouco empenho de Aécio Neves (PSDB) – principal liderança estadual, ex-governador e senador eleito – na campanha de Serra. Para ela, a vitória do PSDB no Sul e Centro-Oeste deve-se a forte identificação do agronegócio com o candidato. “Ele enfatizou muito esse assunto de produção, do escoamento (da safra). Isso gerou uma linha do agronegócio (a favor de Serra), que começa em Roraima, passa pelo Centro-Oeste e vai até o Sul”.
Já o cientista político da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Wilson Ferreira da Cunha, considera que o “uso da máquina”, ou seja, de funcionários e da estrutura do governo federal na eleição, explica o desempenho de Dilma nas três regiões. Outra explicação, no entendimento do especialista, é que Minas Gerais e Rio de Janeiro são estados que recebem muita transferência direta de renda com os programas sociais. “Existe muita pobreza (nos dois estados). Isso reflete na exploração pelo Bolsa-Família”, afirma o professor.
Fonte: Gazeta do Povo
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