terça-feira, 29 de junho de 2010

Saramago, a luta continua!

Nos diversos passos da homenagem que constituiu o funeral de José Saramago, o Prémio Nobel da Literatura, aclamado por multidões de amigos e camaradas que entenderam a mensagem da sua obra de escritor comprometido com a sua época e com as lutas travadas pelos trabalhadores da sua Pátria, o grito de «Saramago, a luta continua!» cobriu protocolos e deu uma verdadeira dimensão, que perdurará, da ligação popular aos seus livros.

Cravos vermelhos, todos simbolizando a luta pela liberdade e a liberdade conquistada, recortes de jornais e de revistas, livros, a bandeira do PCP, sustentada pelas mãos dos seus camaradas que não vergam. Foi assim que muitos milhares de pessoas se despediram, domingo, no Alto de São João, em Lisboa, de José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, militante comunista desde 1969, Partido que ele quis que fosse o seu até ao fim da sua vida.

«Saramago, a luta continua!», foi a frase mais gritada por todos aqueles que se concentraram junto à entrada do crematório. Um clamor de vozes que foi crescendo. «O Saramago não tinha medo das palavras», dizia um entre muitos que ali se encontravam. Presentes, estiveram ainda vários escritores, artistas plásticos, músicos, o Primeiro-ministro e vários dirigentes políticos, com destaque para a comitiva do PCP composta por Jerónimo de Sousa, Vasco Cardoso, Armindo Miranda, Carlos Carvalhas, Carlos Gonçalves, Domingos Abrantes, Manuela Bernardino, José Capucho, Alexandre Araújo, Manuela Pinto Ângelo. No local encontravam-se ainda José Luis Centella, Secretário-geral do Partido Comunista de Espanha, Cayo Lara, Coordenador da Esquerda Unida, acompanhado por responsáveis de Organização e de imprensa.

Depois de encerradas as portas, reservando o espaço para a família e os amigos, continuou-se a ouvir, durante mais de 20 minutos, os aplausos e outras palavras sentidas: «Saramago, amigo, o povo está contigo».

Prosseguir o seu ideal

Palavras de luto, que se iniciaram logo pela manhã, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Lisboa, onde o corpo do Prémio Nobel, falecido na sexta-feira, aos 87 anos de idade, na Ilha de Lanzarote, esteve em câmara ardente.

«Permitam-me que vos transmita, em particular a Pilar del Rio e a toda a sua família, o sentimento de perda partilhado por muitos milhares de camaradas do meu Partido no momento da morte do camarada José Saramago. Deixou-nos de luto, a nós e ao povo português, em particular ao povo trabalhador de onde veio, a quem amou e foi fiel», afirmou, na ocasião, Jerónimo de Sousa, que destacou o «escritor» pela «sua vasta e singular obra literária» que «deu à língua portuguesa e a todos os povos que a falam um Prémio Nobel, com tudo o que ele significou de reconhecimento internacional, de admiração entre os trabalhadores da cultura, um pouco por todo o mundo, transformando-se num embaixador da cultura e da nossa língua».

«A sua obra e os seus principais dispositivos narrativos - um tipo de frase dita a vários, a expressão inovadora de um ritmo oral na escrita, um narrador que não se limitou a narrar mas a participar activamente, a restituir a história àqueles que são ignorados muitas vezes pela historiografia oficial, o seu questionamento, o seu espanto e indignação face às multifacetadas opressões no tempo que vivemos - são marcas impressivas do seu compromisso ético e político que, até ao fim da vida, o uniu aos explorados e oprimidos. Usando e desenvolvendo a sua obra para fazer humanos todos os sentidos do homem, pela sua vida perpassa o ideal de um protagonista de Abril, que encontrou no seu Partido, no PCP, que quis que fosse o seu até ao fim da sua vida, um ideal mais avançado», continuou.

«Um homem que acreditou nos homens»

O Secretário-geral do PCP salientou, de igual forma, que José Saramago «foi mais» do que «só um escritor maior da língua portuguesa», «foi um homem que acreditou nos homens, mesmo quando os questionava, que deu expressão concreta à afirmação de Bento de Jesus Caraça da aquisição da cultura como um factor de conquista de liberdade».

«José Saramago sabia que a sua obra e a sua luta seriam sempre algo inacabado. Mas que tinha valido a pena. Valeu sim! É por isso que, para além do sentimento da perda, lhe fazemos uma homenagem sincera que não se quedará neste dia e neste ano da sua morte, fazendo-o como melhor sabemos fazer: prosseguindo o seu ideal», frisou.

Após os discursos, que foram transmitidos na televisão, nas rádios e num ecrã gigante no exterior do edifício, onde se concentravam centenas de pessoas anónimas, a violoncelista Irene Lima, que envergava um vestido vermelho de Pilar del Rio, usado no dia em que José Saramago recebeu o Nobel, interpretou as peças «Sarabanda» - o «Canto dos Pássaros» de Bach. Marcaram ainda presença o Rancho dos Campinos de Azinhaga e a Banda Filármónica da Azinhaga, terra natal do escritor.

Fonte: Órgão Central do Partido Comunista Português

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