sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Benicio del Toro estreará como diretor em filme sobre Havana

Del Toro, que encarnou o lendário guerrilheiro Ernesto Guevara no filme "Che", de Steven Soderbergh, "estabeleceu uma forte ligação com os cubanos em mais de 12 visitas" à ilha e estreará como diretor do filme, anunciou a agência cubana Prensa Latina.


Além de Del Toro, Medem, Cantet e Trapero, participam do filme, que começou a ser rodado em janeiro, o argentino-francês Gaspar Noé, o palestino Elia Suleiman e o cubano Juan Carlos Tabío, co-diretor do celebrado "Morango e Chocolate".

"Cada um vai fazer um curta de mais ou menos 15 minutos, que corresponda a um dia da semana em Havana. São curtas interessantes e cada um aborda uma faceta determinada da nossa realidade", declarou Tabío à estatal Radio Rebelde, ao ressaltar que o roteiro ainda não está "totalmente terminado".

Durante entrevista coletiva, no âmbito do 32º Festival de Cinema de Havana, Medem explicou que "desde o primeiro momento aceitou unir-se ao tributo por e para Havana com uma visão de fora e de dentro", enquanto Trapero opinou que a fita será "uma oportunidade maravilhosa para levar ao cinema o afeto especial que sente pela ilha".

O filme tem como roteirista principal o escritor cubano Leonardo Padura e a produção geral correrá a cargo do espanhol Alvaro Longoria, fundador da Morena Films, produtora do longa de Soderbergh.

Na 32ª edição do Festival Internacional do Novo Cinema Latino-americano, que termina no domingo, são apresentados 515 filmes, dos quais 120 disputam prêmios.

Fonte: AFP

Liberdade de expressão: uma armadilha para pegar quem?

Por Elaine Tavares


O velho Marx já ensinou há muitos anos sobre o que é a ideologia. É o encobrimento da verdade. Assim, tudo aquilo que esconde, vela, obscurece, tapa, encobre, engana, é ideologia. É dentro deste espectro que podemos colocar o debate que se faz hoje no Brasil, na Venezuela, no Equador e na Bolívia sobre o binômio “liberdade de expressão X censura”. Para discutir esse tema é preciso antes de mais nada observar de onde partem os gritos de “censura, censura”, porque na sociedade capitalista toda e qualquer questão precisa ser analisada sob o aspecto de classe. A tal da “democracia”, tão bendita por toda a gente, precisa ela mesma de um adjetivo, como bem já ensinou Lênin. “Democracia para quem? Para que classe?”.

Na Venezuela a questão da liberdade de expressão entrou com mais força no imaginário das gentes quando o governo decidiu cassar a outorga de uma emissora de televisão, a RCTV, por esta se negar terminantemente a cumprir a lei, discutida e votada democraticamente pela população e pela Assembléia Nacional. “Censura, cerceamento da liberdade de expressão” foram os conceitos usados pelos donos da emissora para “denunciar” a ação governamental. Os empresários eram entrevistados pela CNN e suas emissoras amigas, de toda América Latina, iam reproduzindo a fala dos poderosos donos da RCTV. Transformados em vítimas da censura, eles foram inclusive convidados para palestras e outros quetais aqui nas terras tupiniquins.

Lá na Venezuela os organismos de classe dos jornalistas, totalmente submetidos à razão empresarial, também gritavam “censura, censura” e faziam coro com as entidades de donos de empresas de comunicação internacionais sobre o “absurdo” de haver um governo que fazia cumprir a lei. Claro que pouquíssimos jornais e jornalistas conseguiram passar a informação correta sobre o caso, explicando a lei, e mostrando que os que se faziam de vítima, na verdade eram os que burlavam as regras e não respeitavam a vontade popular e política. Ou seja, os arautos da “democracia liberal” não queriam respeitar as instituições da sua democracia. O que significa que quando a democracia que eles desenham se volta contra eles, já não é mais democracia. Aí é ditadura e cerceamento da liberdade de expressão.

No Brasil, a questão da censura voltou à baila agora com o debate sobre os Conselhos de Comunicação. Mesma coisa. A “democracia liberal” consente que existam conselhos de saúde, de educação, de segurança, etc... Mas, de comunicação não pode. Por quê? Porque cerceia a liberdade de expressão. Cabe perguntar. De quem? Os grandes meios de comunicação comercial no Brasil praticam a censura, todos os dias, sistematicamente. Eles escondem os fatos relacionados a movimentos sociais, lutas populares, povos indígenas, enfim, as maiorias exploradas. Estas só aparecem nas páginas dos jornais ou na TV na seção de polícia ou quando são vítimas de alguma tragédia. No demais são esquecidas, escondidas, impedidas de dizerem a sua palavra criadora. E quando a sociedade organizada quer discutir sobre o que sai na TV, que é uma concessão pública, aí essa atitude “absurda” vira um grande risco de censura e de acabar com a liberdade de expressão. Bueno, ao povo que não consegue se informar pelos meios, porque estes censuram as visões diferentes das suas, basta observar quem está falando, quem é contra os conselhos. De que classe eles são. Do grupo dos dominantes, ou dos dominados?

Agora, na Bolívia, ocorre a mesma coisa com relação à recém aprovada lei anti-racista. Basta uma olhada rápida nos grandes jornais de La Paz e lá está a elite branca a gritar: “censura, censura”. A Sociedade Interamericana de Imprensa, que representa os empresários, fala em cerceamento da liberdade de expressão. Os grêmios de jornalistas, também alinhados com os patrões falam a mesma coisa, assim como as entidades que representam o poder branco, colonial e racista. Estes mesmos atores sociais que ao longo de 500 anos censuraram a voz e a realidade indígena e negra nos seus veículos de comunicação, agora vem falar de censura. E clamam contra suas próprias instituições. A lei anti-racista prevê que os meios de comunicação que incentivarem pensamentos e ações racistas poderão ser multados ou fechados. Onde está o “absurdo” aí? Qual é o cerceamento da liberdade de expressão se a própria idéia de liberdade, tão cara aos liberais, se remete à máxima: “a minha liberdade vai até onde começa a do outro”? Então, como podem achar que é cerceamento da liberdade de expressão usar do famoso “contrato social” que garante respeito às diferenças?

Ora, toda essa gritaria dos grandes empresários da comunicação e seus capachos nada mais é do que o profundo medo que todos têm da opinião pública esclarecida. Eles querem o direito de continuar a vomitar ideologia nos seus veículos, escondendo a voz das maiorias, obscurecendo a realidade, tapando a verdade. Eles querem ter o exclusivo direito de decidir quem aparece na televisão e qual o discurso é válido. Eles querem manter intacto seu poder escravista, racista e colonial que continua se expressando como se não tivessem passado 500 anos e a democracia avançado nas suas adjetivações. Hoje, na América Latina, já não há apenas a democracia liberal, há a democracia participativa, protagônica, o nacionalismo popular. As coisas estão mudando e as elites necrosadas se recusam a ver.

O racismo é construção de quem domina

Discursos como esses, das elites latino-americanas e seus capachos, podem muito bem ser explicados pela história. Os componentes de racismo, discriminação e medo da opinião pública esclarecida têm suas raízes na dominação de classe. Para pensar essa nossa América Latina um bom trabalho é o do escritor Eric Williams, nascido e criado na ilha caribenha de Trinidad Tobago, epicentro da escravidão desde a invasão destas terras orientais pelos europeus. No seu livro Capitalismo e Escravidão, ele mostra claramente que o processo de escravidão não esteve restrito apenas ao negro. Tão logo os europeus chegaram ao que chamaram de Índias Orientais, os primeiros braços que trataram de escravizar foram os dos índios.

Os europeus buscavam as Índias e encontraram uma terra nova. Não entendiam a língua, não queriam saber de colonização. Tudo o que buscavam era o ouro. Foi fácil então usar da legitimação filosófica do velho conceito grego que ensinava ser apenas “o igual”, “o mesmo”, aquele que devia ser respeitado. Se a gente originária não era igual à européia, logo, não tinha alma, era uma coisa, e podia ser usada como mão de obra escrava para encontrar as riquezas com as quais sonhavam. Simples assim. Essa foi a ideologia que comandou a invasão e seguiu se sustentando ao longo destes 500 anos. Por isso é tão difícil ao branco boliviano aceitar que os povos originários possam ter direitos. Daí essa perplexidade diante do fato de que, agora, por conta de uma lei, eles não poderão mais expressar sua ideologia racista, que nada mais fez e ainda faz, que sustentar um sistema de produção baseado na exploração daquele que não é igual.

Eric Williams vai contar ainda como a Inglaterra construiu sua riqueza a partir do tráfico de gente branca e negra, para as novas terras, a serem usadas como braço forte na produção do açúcar, do tabaco, do algodão e do café. Como o índio não se prestou ao jogo da escravidão, lutando, fugindo, morrendo por conta das doenças e até se matando, o sistema capitalista emergente precisava inventar uma saída para a exploração da vastidão que havia encontrado. A escravidão foi uma instituição econômica criada para produzir a riqueza da Inglaterra e, de quebra, dos demais países coloniais. Só ela seria capaz de dar conta da produção em grande escala, em grandes extensões de terra. Não estava em questão se o negro era inferior ou superior. Eram braços, e não eram iguais, logo, passíveis de dominação. Eles foram roubados da África para trabalhar a terra roubada dos originários de Abya Yala.

Também os brancos pobres dos países europeus vieram para as Américas como servos sob contrato, o que era, na prática, escravidão. Segundo Williams, de 1654 a 1685, mais de 10 mil pessoas nestas condições partiram somente da cidade de Bristol, na Inglaterra, para servir a algum senhor no Caribe. Conta ainda que na civilizada terra dos lordes também eram comuns os raptos de mulheres, crianças e jovens, depois vendidos como servos. Uma fonte segura de dinheiro. De qualquer forma, estas ações não davam conta do trabalho gigantesco que estava por ser feito no novo mundo, e é aí que entra a África. Para os negociantes de gente, a África era terra sem lei e lá haveria de ter milhões de braços para serem roubados sem que alguém se importasse. E assim foi. Milhões vieram para a América Latina e foram esses, juntamente com os índios e os brancos pobres, que ergueram o modo de produção capitalista, garantiram a acumulação do capital e produziram a riqueza dos que hoje são chamados de “países ricos”.

E justamente porque essa gente foi a responsável pela acumulação de riqueza de alguns que era preciso consolidar uma ideologia de discriminação, para que se mantivesse sob controle a dominação. Daí o discurso – sistematicamente repetido na escola, na família, nos meios de comunicação – de que o índio é preguiçoso, o negro é inferior e o pobre é incapaz. Assim, se isso começa a mudar, a elite opressora sabe que o seu mundo pode ruir.

Liberdade de expressão

É por conta da necessidade de manter forte a ideologia que garante a dominação que as elites latino-americanas tremem de medo quando a “liberdade de expressão” se volta contra elas. Esse conceito liberal só tem valor se for exercido pelos que mandam e aí voltamos àquilo que já escrevi lá em cima. Quando aqueles que os dominadores consideram “não-seres” - os pobres, os negros, os índios – começam a se unir e a construir outro conceito de direito, de modo de organizar a vida, de comunicação, então se pode ouvir os gritos de “censura, censura, censura” e a ladainha do risco de se extinguir a liberdade de expressão.

O que precisa ficar bem claro a todas as gentes é de que está em andamento na América Latina uma transformação. Por aqui, os povos originários, os movimentos populares organizados, estão constituindo outras formas de viver, para além dos velhos conceitos europeus que dominaram as mentes até então. Depois de 500 anos amordaçados pela “censura” dos dominadores, os oprimidos começam a conhecer sua própria história, descobrir seus heróis, destapar sua caminhada de valentia e resistência. Nomes como Tupac Amaru, Juana Azurduy, Zumbi dos Palmares, Guaicapuru, Bartolina Sisa, Tupac Catari, Sepé Tiaraju, Dandara, Artigas, Chica Pelega, assomam, ocupam seu espaço no imaginário popular e provocam a mudança necessária.

Conceitos como Sumak kawsay, dos Quíchua equatorianos, ou o Teko Porã, dos Guarani, traduzem um jeito de viver que é bem diferente do modo de produção capitalista baseado na exploração, na competição, no individualismo. O chamado “bem viver” pressupõe uma relação verdadeiramente harmônica e equilibrada com a natureza, está sustentado na cooperação e na proposta coletiva de organização da vida. Estes são conceitos poderosos e “perigosos”. Por isso, os meios de comunicação não podem ficar à mercê dos desejos populares. Essas idéias “perigosas” poderiam começar a aparecer num espaço onde elas estão terminantemente proibidas. É esse modo de pensar que tem sido sistematicamente censurado pelos meios de comunicação. Porque as elites sabem que destruída e ideologia da discriminação contra o diferente e esclarecida a opinião pública, o mundo que construíram pode começar a ruir. A verdadeira liberdade de expressão é coisa que precisa ficar bem escondida, por isso são tão altos os gritos que dizem que ela pode se acabar se as gentes começarem a “meter o bedelho” neste negócio que prospera há 500 anos.

Basta de bobagens

É neste contexto histórico, econômico e político que deveriam ser analisados os fatos que ocorrem hoje na Venezuela, no Equador, na Bolívia e na Argentina. O Brasil deveria, não copiar o que lá as gentes construíram na sua caminhada histórica, mas compreender e perceber que é possível estabelecer aqui também um processo de mudança. Neste mês de novembro o Ministério das Comunicações chamou um seminário para discutir uma possível lei de regulamentação da mídia brasileira. Não foi sem razão que os convidados eram de Portugal, Espanha e Estados Unidos. Exemplos de um mundo distante, envelhecido, necrosado, representantes de um capitalismo moribundo. As revolucionárias, criativas e inovadoras contribuições dos países vizinhos não foram mencionadas. A Venezuela tem uma das leis mais interessantes de regulamentação da rádio e TV, a Argentina deu um passo adiante com a contribuição do movimento popular, a Bolívia avança contra o racismo, o Equador inova na sua Constituição, e por aqui tudo é silêncio. Censura?

Os governantes insistem em buscar luz onde reina a obscuridade. E, ainda assim pode-se ouvir o grito dos empresários a dizer: censura, censura, censura. O atraso brasileiro é tão grande que mesmo as liberais regulamentações européias são avançadas demais. Enquanto isso Abya Yala caminha, rasgando os véus...

Elaine Tavares é jornalista.
 
Fonte: Revista Caros Amigos

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Lula pede manifestação contra prisão de dono do WikiLeaks e é aplaudido de pé

Saúde Mental e desinformação

PorMarcos Roberto Vieira Garcia


Os Centros de Atenção Psicossociais (CAPSs) foram criados no Brasil a partir de 1987, tendo um papel estratégico na substituição do modelo manicomial na Sáude Mental. Como locais abertos, não mais caracterizados como depósitos de seres humanos, os CAPSs são livres para a circulação dos usuários e seus familiares, de preferência localizados próximos às residências de seu usuários, ou seja, ser um serviço territorializado, ligado à comunidade, oferecendo um serviço integral e multiprofissional.

A Portaria 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, assinada pelo então ministro da Saúde, José Serra, e reafirmada no governo subseqüente, estabelece as regras de funcionamento dos CAPS. Em seu artigo 3º, determina que "os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) só poderão funcionar em área física específica e independente de qualquer estrutura hospitalar". O motivo de tal determinação é claro: o de evitar que a lógica de funcionamento manicomial se reproduza na forma de funcionamento dos CAPSs nascentes, permitindo que eles possam cumprir a função para a qual foram criados.

No caso específico da cidade de Sorocaba, poderíamos estar satisfeitos com as informações repassadas pela Prefeitura Municipal, de que teríamos 10 CAPSs na cidade, o que significaria o estabelecimento de uma rede substitutiva aos manicômios na cidade. Estes dados, no entanto, causam estranheza: se tantos CAPSs foram abertos, por que os leitos em manicômios não foram reduzidos de forma substancial? A resposta a esta pergunta passa por uma análise da rede dos supostos CAPSs de Sorocaba. Vamos a ela.

O primeiro grupo, de três supostos CAPS, é constituído por unidades diretamente ligadas, física e administrativamente, a hospitais psiquiátricos da cidade. Conforme informação veiculada em reportagem de um jornal local - "Conselho quer tratamento em nível ambulatorial" - em maio de 2010, são eles os denominados CAPS Infantil Vera Cruz, o CAPS II Vera Cruz e o CAPS Teixeira Lima. Estas unidades estão em claro desacordo com a legislação citada anteriormente, de independência dos CAPSs em relação a instituições hospitalares e, portanto, não podem ser consideradas Centros de Atenção Psicossocial, como de fato não o são pelo Ministério da Saúde.

Situação semelhante à anterior é a do suposto CAPS de álcool e drogas adulto, administrado pela Associação Protetora dos Insanos. Tal Associação é mantenedora do Hospital Psiquiátrico Jardim das Acácias desde a década de 50, quando o mesmo se denominava ainda Instituto de Higiene Mental "Dr. Luiz Vergueiro", e mantém com o mesmo uma relação de total interdependência, o que não lhe possibilita ser mantenedora de um CAPS pela portaria supracitada, justificando-se o não-reconhecimento por parte do Ministério da Saúde a este suposto CAPS.

O terceiro caso refere-se aos supostos CAPSs que, na verdade. configuram-se como ambulatórios especializados em Saúde Mental e são reconhecidos enquanto tal pelo Ministério da Saúde. É o caso de dos denominados CAPS II Jardim das Acácias (da avenida Dr. Armando Salles de Oliveira, no bairro do Trujillo) e um dos do CAPSs Infantil gerido pela Associação Pró-Reintegração Social da Criança (da rua Luíza de Carvalho).

É importante ressaltar que as exigências para o reconhecimento de uma unidade como ambulatório são diferentes das que se referem aos CAPS, o que significa que tais unidades, embora funcionem como ambulatórios, não podem legalmente ser consideradas como Centros de Atenção Psicossocial.

Passemos aos quatro supostos CAPSs restantes, estes sim reconhecidos pelo Ministério da Saúde enquanto tal. Todos eles são cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), como sendo de administração direta pela Prefeitura. Três deles, no entanto, são repassados de outras instituições. Uma delas, a Associação Pró-Reintegração da Criança, não será aqui questionada, uma vez que não se configura como uma instituição com histórico manicomial, sendo, portanto, legítimo o reconhecimento pelo Poder Público de uma de suas unidades como CAPS infantil, conforme a lei estadual 4.053, de 20 de agosto de 1957.

Obtivemos informações acerca do cadastramento de dois destes CAPS no plano estadual, ambos aprovados sob gestão plena do Sistema Municipal: CAPS-AD (álcool e drogas) Jardim das Acácias, na Deliberação CIB-155, de 12 de dezembro de 2006; e o Centro de Atenção Psicossocial Infantil de Sorocaba/CAPS, na Deliberação CIB-124/2006, localizada na avenida Itavuvu. O mesmo não se pode afirmar de outros dois supostos CAPS, o CAPS de álcool e drogas jovem e o CAPS II (da praça Nova York), ambos com gestão repassada à Associação Protetora dos Insanos.

O repasse da gestão de um CAPS cadastrado junto ao Ministério da Saúde como administrado diretamente pela Prefeitura de Sorocaba a uma instituição historicamente ligada, instrínseca e historicamente, a um manicômio da cidade revela, se não uma ilegalidade, certamente uma imoralidade, uma vez que a portaria que define as regras de funcionamento dos CAPS é negligenciada neste processo. O último suposto CAPS, o Ambulatório de Saúde Mental de Sorocaba, pode ser considerado legitimamente como tal, ainda que a Prefeitura prefira chamá-lo como Ambulatório em seu nome oficial.

Concluindo: uma análise mais acurada demonstra que a Prefeitura local divulga informações enganosas à população. Dos supostos dez CAPSs divulgados, apenas quatro são reconhecidos pelo Ministério da Saúde e dois

deles graças a um subterfúgio que está em desacordo com a portaria que regulamenta o funcionamento dos CAPSs. Por este motivo, apenas duas unidades podem ser consideradas legitimamente como Centros de Atenção Psicossocial em Sorocaba. As restantes podem, quando muito, ser nomeadas como ambulatórios. Chamá-las de CAPSs corresponde a uma afirmação enganadora e desrespeitosa em relação ao histórico de lutas pela reforma psiquiátrica no Brasil e à população sorocabana, que tem direito ao acesso à informação correta.


Marcos Roberto Vieira Garcia é doutor em Psicologia Social pela USP (Universidade de Säo Paulo), professor adjunto da UFSCar-Sorocaba, coordenador do Núcleo de Sorocaba da Associação Brasileira de Psicologia Social e membro do conselho gestor da subsede local do Conselho Regional de Psicologia

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Cerca de 33 mil adolescentes serão mortos até 2013

Dois adolescentes a cada grupo de mil jovens de 12 a 18 anos foram assassinados, em 2007, nos 266 municípios com mais de 100 mil habitantes, aponta o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA). Caso essa taxa de mortalidade juvenil (2,67) seja mantida, a projeção é de que 33 mil adolescentes sejam mortos até 2013.


Os dados foram calculados pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e divulgados nesta quarta-feira, em Brasília, pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela organização não governamental Observatório de Favelas.

A morte violenta é responsável por quase metade das mortes de pessoas de 12 a 18 anos no Brasil (45,5% dos casos). O índice é quase o dobro das mortes por doença (26,5%) e mais do que o dobro das mortes por acidente (23,2%).

Segundo o estudo feito em 11 regiões metropolitanas, os homicídios afetam principalmente os rapazes (12 homens para cada jovem assassinada); os negros (quase quatro pretos ou pardos para cada branco ou amarelo); e moradores da periferia. A arma de fogo (revólver, pistola, espingarda, fuzil, metralhadora) é o principal meio de assassinato dos jovens.

Um ranking dos municípios mais violentos com adolescentes é liderado por Foz do Iguaçu (PR), com 11,7 mortes a cada mil jovens; seguido por Cariacica (ES), com 8,2 assassinatos a cada mil pessoas; e Olinda (PE) com oito homicídios a cada mil adolescentes.

Os Estados do Espírito Santo, de Pernambuco e Minas Gerais têm, cada um, quatro municípios na lista das 20 cidades com mais de 200 mil habitantes e com maiores IHA. O Estado do Rio de Janeiro tem três municípios na lista, Alagoas tem duas cidades, Bahia, Maranhão e Paraná têm, cada um, uma cidade na lista. Segundo a pesquisa, a Região Nordeste é a que registra maiores riscos de homicídio.
 
fonte: Pragmatismo Político

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Desmatamento na Amazônia atinge menor taxa em 22 anos

A taxa de desmatamento na Amazônia Legal caiu 14% entre agosto de 2009 e julho de 2010, segundo revelação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) nesta quarta-feira. É o menor índice verificado desde 1988, quando o INPE iniciousua série de levantamentos anuais. Projetado a partir de 93 imagens de satélite, o desflorestamento foi estimado em 6.451 quilômetros quadrados.


Na medição de 2009, este número foi de 7,6 mil km². Do total desmatado, o Pará responde por mais da metade: 3.710 km². A seguir, muito distante, aparece o Mato Grosso com 828 km². acompanhado pelo Maranhão (679 km²) , Amazonas (474 km²), Rondônia (427 km²), Acre (273 km²) e Tocantins (60 km²). Amapá e Roraima não foram avaliados na estimativa.

Recuo nos líderes do ranking - Realizada através do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), a pesquisa computa como desmatamento as áreas maiores que 6,25 hectares onde ocorreu remoção completa da cobertura florestal (corte raso).

Os dados ficaram acima do esperado pelo governo, que trabalhava com uma taxa em torno de 5 mil km². De qualquer forma, o INPE registrou redução significativa do desmatamento nos três estados que tradicionalmente lideram o ranking de derrubadas: Mato Grosso, Pará e Rondônia.

Mais próximo da meta – Agora, com a taxa de anual de 6 mil km², o Brasil se aproxima da meta de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020, segundo o Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Assumido em compromisso internacional, o cronograma tem o objetivo de, ao final da próxima década, alcançar a uma taxa anual de 3,5 mil km² de desmatamento.

O governo já cogita antecipar o cumprimento da meta para 2016.

Para o diretor do INPE, Gilberto Câmara, a diminuição na derrubada de florestas é conseqüência de várias ações, o que engloba a fiscalização do Ibama e da Polícia Federal, ambos informados via monitoramento por satélite, agregado a uma maior responsabilidade empresarial que estaria reduzindo a compra de produtos – como carne e soja – oriundos de áreas desmatadas. Os novos dados do INPE devem ser apresentados pela ministra Izabella Teixeira (foto), do Meio Ambiente, na conferência sobre mudanças climáticas (Cop-16) em realização no México.

Fonte: Brasília Confidencial

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PROGRESSÃO CONTINUADA - Mãe pede que a filha seja reprovada

Ao classificar o sistema como “criminoso”, o deputado estadual Hamilton Pereira denuncia que existe falta de vontade política para se investir na educação


“Não quero que minha filha passe de ano sem que esteja devidamente preparada”. A colocação é da mãe de uma estudante da rede estadual de ensino, que não concorda com o sistema de Progressão Continuada, pelo qual os alunos são aprovados automaticamente. Mas, diante da dificuldade em conseguir a reprovação da filha, a promotora de vendas L.D.A. decidiu chamar via imprensa a atenção para a questão, que inclusive foi programa de governo de vários candidatos ao governo do Estado. Para os professores, o atual sistema não beneficia os alunos e nem a eles próprios.


De acordo com a mãe, que não é identificada a fim de evitar algum tipo de constrangimento da filha de 11 anos, matriculada na 5ª série do Ensino Fundamental na EE “Professor Júlio Bierrembach de Lima”, no Jardim Santa Rosália, seria preferível que a garota repetisse agora, evitando assim que no futuro se depare com total falta de preparo, sem condições até mesmo de cursar nível superior.

A mãe explica que os problemas de aprendizado da filha começaram quando ela ainda estava na 3ª série, e que já a levou a fazer terapia, sem no entanto encontrar alguma explicação para sua dificuldade, a não ser sua falta de atenção. Para a menina, que também gostaria de ser reprovada, o problema estaria nas salas de aula muito lotadas.

De acordo com a promotora de vendas, que não pode manter a filha numa escola particular e nem mesmo pagar reforço para várias matérias, o ideal seria que o aluno não apenas frequentasse a escola, mas que aprendesse. Ela também acrescenta que até a menina gostaria de ser reprovada: “Ela fica triste por não conseguir acompanhar os colegas de classe, e por isso também gostaria de fazer novamente a 5ª série”.

Por isso, na tentativa de “salvar” a filha de ter um futuro profissional prejudicado, a promotora de vendas entregou para a diretora Maria Helena uma carta, explicando os motivos que a levaram a tomar essa atitude.

Mas embora a diretora tenha compreendido sua preocupação e se comprometido em ver o que poderia ser feito, a promotora de vendas percebeu que dificilmente teria a solicitação atendida, resolvendo então trazer à tona o problema por meio da imprensa. “Não faço isso só pela minha filha, imagino que existam outras crianças na mesma situação, e outros pais igualmente preocupados com o aproveitamento escolar dos filhos”. Entretanto, a promotora de vendas destaca que o problema não é a escola Bierrembach, onde inclusive estuda outra filha sua, mas sim o atual sistema de aprovação.

Sem reprovar

A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Educação do Estado de São Paulo informa que diretores e professores avaliam pedagogicamente o desempenho dos alunos, julgando se são capazes de prosseguir para a série seguinte.

Entretanto, sem responder sobre o encaminhamento dado pela diretora Maria Helena sobre o pedido da promotora de vendas para a reprovação da filha, a assessoria explicou que a progressão continuada no Ensino Fundamental é organizada em Ciclos de aprendizagem: o primeiro ciclo (Ciclo I) vai do 1º ao 5º ano e o segundo ciclo (Ciclo II) se estende do 6º ao 9º ano. Pode haver repetência entre os dois ciclos e no final do ciclo II. Portanto, 4ª ou 8ª série, o aluno pode fazer a recuperação de ciclo, permanecendo mais um ano nesta série.

Sistema distorcido

Para o professor de História, Alexandre Tardelli, coordenador da Regional da Associação dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp), “o sistema, idealizado pelo educador Paulo Freire foi implantado sem que houvesse um debate, uma adequação, e na prática o que existe é promoção automática”.

Em total concordância com a mãe da estudante, Tardelli afirma que a promoção automática se dá por questões políticas, tendo como resultado o nivelamento por baixo. Segundo ele, “há muita pressão dos diretores sobre os professores para que os alunos sejam aprovados. Mas tem muitos diretores que não concordam, mas que são também pressionados pelas Diretorias Regionais”.

Com visão negativa do futuro profissional dos estudantes avaliados pela progressão continuada, Alexandre Tardelli admite que “se fosse para avaliar mesmo, mais da metade dos alunos não passaria. É que eu me atento ás questões de História, e não aos erros gritantes de português”.

Mas diante desse quadro, que como consequência também gerou menos reconhecimento profissional do professor, Tardelli defende que “o sistema precisaria ser aperfeiçoado, e implantar política pública e não política de governo”.

Quem também pensa como ele é o deputado estadual reeleito Hamilton Pereira (PT), que lembrou inclusive que a proposta de Aluísio Mercadante, candidado ao governo do Estado, era resgatar o projeto de autoria do Paulo Freire, “cuja ideia visava não penalisar o aluno, mas oferecer uma avaliação continuada com reforço escolar dentro e fora da sala de aula. Mas se tornou aprovação automática para virar estatística quantitativa e não qualitativa. É uma fábrica de analfabetos”, enfatiza.

Hamilton Pereira, que também compreende a atitude da promotora de vendas, aponta vários fatores que contribuem com o fracasso da progressão continuada, como classes superlotadas, e o fato de 45% dos professores não serem efetivos. Isso, segundo Hamilton, pode desencadear duas reações negativas: aluno e professor não criam referências, e os professores muitas vezes não têm nem tempo para avaliar o desempenho do estudante.

Ao classificar o sistema como “criminoso”, o deputado estadual denuncia que existe falta de vontade política para se investir na educação, sendo que com previsão orçamentária de R$ 142 bilhões para o ano de 2011, não há como tentar justificar falta de recursos, que para o setor serão de no mínimo 25% de toda fatia.

Jornal Cruzeiro do Sul

Fonte: Site do Deputado Estadual (SP) Hamilton Pereira (PT)